quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O egoismo ainda é surpreendente

Na última segunda, duas histórias me fizeram refletir em quanto o ser humano é tendencioso ao egoísmo. Recebi uma dessas apresentações via email de um professor muito querido, e nela falava-se sobre o "Slow Down", um movimento que está surgindo na Europa em que se valoriza a qualidade de vida, as horas de lazer, os momentos de prazer em detrimento da doutrina "Fast" ocidental na qual tudo deve ser feito para ontem, e nos sentimos culpados até mesmo por alguns minutos de ócio. Enfim, uma apresentação interessantíssima que só ela já vale uma postagem.

No entanto, hoje quero falar sobre um trecho, no qual, o autor conta que, ao se mudar para Suécia, costumava pegar carona todos os dias com um colega de trabalho. E, ele sempre estacionava numa vaga distante da entrada da empresa e eles sempre tinham que caminhar um percurso razoável, muito embora tivessem vagas mais próximas.

Após um tempo, e com uma maior intimidade, o novato questionou esse colega, por que afinal estacionava tão distante se haviam vagas mais próximas, teriam todos lugares reservados? Qual foi a sua surpresa quando respondeu que não haviam locais marcados, mas como chegavam cedo, tinham tempo para caminhar, e os outros colegas que chegassem mais tarde não disporiam do mesmo tempo e por isso seriam mais interessante para eles estacionarem mais perto da porta.

Confesso que ao ler essa história mes senti até um pouco contrangida, não somos habituados a essa cultura civilizada, não diria nem que eles possuem algo de especial, o problema está em nossa cultura. Fico irritada ao ouvir frases do tipo:

"Fulano tem muitas qualidades, é honesto, educado, leal, sincero."


Como assim qualidade? A frase mais correta seria:

"Fulano é gente, por isso é honesto, educado, leal, sincero."


É fato: nossos valores estão invertidos, totalmente. E, quanto ao egoismo, está ainda mais acentuado. O "eu" tomou conta das pessoas, o amor ao próximo já foi esquecido há tempos, amar ao próximo como a si mesmo então, nem se fala. O raciocínio é: levar vantagem em tudo. E, com isso, as pessoas perderam a empatia, ou seja, sentir o que o outro está sentindo.

Para minha mais profunda vergonha, foi transmitido em rede nacional uma reportagem do meu querido Estado, o Espírito Santo. Na reportagem, falava-se de como as pessoas não respeitavam os lugares reservados nos ônibus. Nisso, mostraram uma cena, ao meu ver, repugnante: uma senhora grávida de 7 meses em pé, num ônibus lotado, e, sentada ao seu lado, um jovem mulher. Quando questionada sobre o motivo pelo qual não cedeu lugar para a gestante, em cadeia nacional respondeu:

"Fiquei mais de uma hora esperando o ônibus, não vou viajar em pé."


Como assim não vai viajar em pé? Vai deixar uma grávida corrento o risco de, num movimento mais brusco, prejudicar o curso normal de sua gravidez? A resposta da grávida à entrevistada foi:

"O dia dela chegará!"


Quer dizer que é assim? A dor só é sentida quando está em mim. Só essa pequena cena já explica muita coisa.

Para finalizar, na segunda ainda ouvi uma outra história no hospital. Um médico estava atendendo a uma advogada com pneumonia tuberculosa, ainda numa fase contagiosa. Precisava ficar internada, isolada até que não transmitisse mais a doença. No entanto, após insitir e garantir ao médico que ficaria isolada em sua casa e não sairia em hipótese alguma, ele, conhecendo-a, deu-lhe alta. No final de semana seguinte, encontrou essa advogada nas Lojas Americanas, lotada, fazendo compras. Brigou com ela e a mandou imediatamente para casa.

Essa advogada era uma pessoa plenamente esclarecida sobre o risco de transmitir a doença, e mesmo assim saiu e, provavelmete contagiou alguém. Esse é o retrato da nossa sociedade. Afinal, ela realmente precisava fazer compras, e não importava que alguém pudesse perder a vida em virtude disso.

"E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará. Mas aquele que perseverar até o fim será salvo. E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim." Mateus 24:12-14

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Verdadeiro amor

É impressionante o quanto somos levados a pensamentos comuns e muitas vezes preconceituosos, julgamentos que não deveríamos fazer à luz do verdadeiro significado das palavras. Como o amor, por exemplo. O caro leitor deve estar se perguntando o porquê dessa minha pequena divagação. O fato é: os sentimentos de um modo geral encontram-se distorcidos, e essa distorção é transmitida o tempo inteiro, via revistas, jornais, televisão (principalmente), enfim, pelos meios de comunicação. E isso, tem mudado o ponto de vista das pessoas e tornado comum o que antes poderia parecer absurdo e vice-versa.

Há alguns dias estava em uma aula de trabalho de campo em um hospital, acompanhava um professor muito humano, fato que torna-se cada vez mais raro no meio médico, quando paramos em uma paciente que estava sendo alimentada por um homem. A senhora possui uma seqüela neurológica que a deixou com o lado esquerdo paralisado, com profunda dificuldade em deglutir, impossibilitada de falar e restrita a uma cama. O homem ao seu lado, tinha muita paciência, dava o alimento com calma, e dizia que ela era o amor da sua vida. Na mesma hora pensei que ele só poderia ser o filho dela. Afinal, era muita abdicação, só podia ser um filho. Mas, qual foi a minha surpresa quando soube que ele era o marido dela. Há 20 anos aquela mulher estava acamada, naquela situação, que aparentemente não poderia oferecer nada àquele homem, mas ele repetia o tempo inteiro:

"Ela é o amor da minha vida"


Realmente, esta mulher é o amor da vida desse homem. Amor é isso mesmo, abdicação, zelo, cuidado, atenção, é dar sem esperar nada em troca. O médico que a examinou antes de nós disse que ela não se comunicava, mas pudemos perceber claramente que eles se comunicavam sim, que ele entendia muito bem o que ela queria dizer. Isso é cumplicidade.

O que tentam neste mundo nos ensinar sobre amor é muito diferente disso. É um amor egoísta que sempre espera algo em troca, um amor traiçoeiro que se vinga no primeiro problema, um amor que não suporta nada, não suporta dividir um mesmo teto, não suportar dividir a conta, não suporta dividir os mesmos problemas, não suporta se quer um aumento de peso do companheiro. Dia desses ouvi um linda frase de uma esposa ao seu marido em um programa.

"Ou eu ou sua barriga"


Que grande amor! As pessoas hoje não tem mais paciência para cultivar um amor, "para me amar tem que me aceitar do jeito que eu sou", é a máxima. Pois para mim, quem ama tenta agradar o ser amado, mesmo que para isso tenha que mudar certos hábitos antigos.

Precisamos rever esse sentimento, onde foi que ele se perdeu nesse caminho. Naquele dia, me emocionei muito com esse casal. E, para minha surpresa, ao comentar com uma colega que eu estava profundamente emocionada, a pergunta que ela me fez foi: Com o que? Ela não conseguiu compreender a profundidade daquela cena. Isso é lamentável.

A caridade é sofredora, é benigna; a caridade não é invejosa; a caridade não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita o mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. I Coríntios 13:4-7


Caridade é o mesmo que amor. Esse é o verdadeiro amor, qualquer coisa diferente disso, pode até parecer amor. Infelizmente, o que mais temos visto sobre amor é totalmente diferente, e por isso o mundo está dessa forma, famílias destruidas, homicídios, tristezas, dores. Deus é amor, e fora d'ELE não há amor verdadeiro.

Natalia Wanick